"Como professor não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha". (Paulo Freire)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Escrever para convencer

Autora: Heloisa Amaral - Mestre em educação e pesquisadora do Cenpec

A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro propõe que o ensino de língua seja feito na perspectiva dos gêneros textuais. Essa proposta de ensino está inspirada nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. Nesse documento, a orientação para o ensino de língua parte da concepção de devemos ensinar a língua em seu funcionamento cotidiano, isto é, no modo como ela acontece todos os dias nas diferentes situações de comunicação em que as pessoas estão envolvidas.
Os gêneros textuais são os instrumentos que usamos para nos comunicar nessas diferentes situações de comunicação. Por exemplo, é muito comum que estejamos envolvidos numa situação cotidiana como esta:
-Bom dia, Marlene.
-Bom dia! Como passou de ontem?
- Bem, e você?
Como a situação se repete, nosso modo de comunicação também se repete. As duas pessoas envolvidas nessa interação já sabem como começar a conversa, quem precisa começar, como dar as réplicas. Como o ser humano é um ser que se comunica por meio da língua, dos sons e dos gestos, cada situação de comunicação adquire um "tom" particular, uma espécie de musicalidade, que sabemos como entoar porque usamos com muita frequência. É essa repetição contínua das situações de comunicação que vai marcando os diferentes gêneros de discurso ou gêneros textuais que usamos. Ou seja, podemos dizer que nenhum gênero de texto nasce, como se diz, "sem pai nem mãe". Todos têm suas origens marcadas por alguma situação de comunicação que acontece em alguma área de atividade humana.
Nas diferentes situações de comunicação existem gêneros que são tão comuns que todos conhecem desde que começam a interagir com as demais pessoas, mesmo antes de começar a falar. É o caso do gênero "conversa entre mãe e filho". Esses gêneros de discurso do dia-a-dia não precisam ser ensinados na escola. Existem outros que são mais especializados porque são produzidos em situações de comunicação mais técnicas, mais profissionais, ou mais artísticas, mais científicas. Esses são os que a escola precisa ensinar.
Hoje, vamos refletir sobre um dos gêneros textuais que, pensamos, deve ser ensinado na escola, o artigo de opinião. Ele está entre os gêneros textuais utilizados quando alguém quer convencer os demais sobre uma determinada posição numa questão que causa polêmica. Como todos os demais gêneros que existem, o artigo de opinião tem uma origem. Como o artigo de opinião é um gênero jornalístico, para entendê-lo é preciso entender o funcionamento do jornal em seu lugar de origem, as empresas jornalísticas.
Uma das coisas que se sabe sobre os jornais, é que eles contribuem para formar mentalidades. O Manual de Redação da Folha de S. Paulo, um dos principais jornais do país, afirma, sobre esse assunto, que "o jornal (...) é um órgão formador de opinião. Sua força se mede pela capacidade de intervir no debate público e, apoiado em fatos e informações exatas e comprovadas, mudar convicções e hábitos."
Assim, a Folha de São Paulo e os demais jornais assumem publicamente sua função: intervir no debate público, isto é, nas grandes discussões que envolvem o público, e mudar as opiniões das pessoas. Os jornais fazem isso por meio das notícias e dos artigos de opinião que publicam.
As notícias, que são a razão de ser dos jornais, ocupam grande parte deles e devem ser "verdadeiras", isto é, apoiadas em fatos e informações precisos, isentas de opinião. É claro que isso é muito relativo, porque ninguém consegue dizer alguma coisa sem denunciar, de alguma forma, o que pensa sobre o que diz...
Como as notícias publicadas devem ser isentas de opinião sobre os fatos noticiados, a opinião sobre eles vai aparecer nos artigos. Eles são escritos por pessoas influentes na sociedade, sobre os debates criados pela leitura das notícias que circularam no jornal em dias anteriores. Os articulistas, por serem pessoas respeitadas, podem, com suas palavras, influenciar ou mesmo mudar convicções e hábitos dos leitores.
Para atingir sua finalidade, convencer os leitores da importância da opinião do articulista, os artigos de opinião são organizados como uma espécie de discussão entre pontos de vista diferentes sobre polêmicas que as notícias causaram. Eles são planejados para que a opinião do autor pareça ser a mais correta, a mais importante, enquanto as opiniões contrárias a ela são desvalorizadas.
Separando as notícias das opiniões, o jornal atinge duas finalidades: a noticia traz fatos apoiados em informações comprovadas e os artigos procuram mudar a opinião, convicções e hábitos dos leitores.
Publicado em: 01/02/2007
Atualizado em: 27/07/2009 - Comunidade Escrevendo o Futuro
Escolhendo gêneros textuais para ensinar na escola
Leituras - Artigos

Escrito por Belisario Retto de Abreu
28-Jan-2010


Autora: Heloisa Amaral

O homem não faz nenhuma ação em sociedade, por mais simples que seja, sem se comunicar. As atividades humanas têm semelhanças entre si e podem ser agrupadas: áreas específicas de cada um dos trabalhos que a humanidade faz, área das atividades cotidianas, área religiosa. Cada área de atividade humana tem sua linguagem própria, com gêneros textuais próprios. A língua, vista dessa maneira, é viva, porque se transforma continuamente quando é usada nas comunicações entre as pessoas. Ao ensinar a ler e a escrever, é possível trabalhar com a língua viva, como é usada no dia-a-dia.
Esse modo de ver o ensino de língua é muito diferente do tradicional. Nos procedimentos tradicionais, a língua é tratada como uma coisa morta, dividida em partes. O aluno aprende sílabas numa época, substantivos na outra, análise sintática mais tarde. As aulas de gramática não são ligadas com as aulas de redação. As aulas de redação parecem não ter nada a ver com a aprendizagem de leitura. As capacidades de leitura são consideradas "naturais", como se, ao aprender a decifrar as letras e as sílabas, o entendimento de todo e qualquer texto estivesse garantido. Essa divisão do ensino de língua em gramática e ortografia, redação e leitura torna as aulas estáticas e o aprendizado segmentado. O aluno não vê ligação entre as partes, é uma língua que não está em funcionamento nos momentos de comunicação. É apenas um objeto de estudo.
Ao ensinar uma diversidade de gêneros na escola, por mais simples que eles sejam (como uma receita culinária, por exemplo), todas as palavras e letras ganham significação. A leitura, a gramática, a ortografia e até mesmo a produção escrita assumem sentido porque estão ligados pelo uso. O aprendizado da língua deixa de ser fragmentado e o ensino de ortografia e gramática é associado aos procedimentos para ampliar o letramento dos alunos. Sabemos que, se o aluno não sair da escola com um bom grau de letramento, não estará preparado para compreender o mundo.
Um bom grau de letramento é conseguido quando dominamos muitos gêneros textuais. Isso acontece porque os gêneros são representativos das áreas de atividade humana em que são produzidos e com as quais temos que entrar em contato cotidianamente, de modo direto ou indireto.
Um bom parâmetro para ter uma idéia de como temos que lidar com muitas áreas de atividades humanas todos os dias, de uma maneira ou de outra, é a programação da televisão (que é uma ampla área de atividade humana), com qual nós e nossos alunos temos contato muitas horas por dia. Essa programação pode ser usada como um "painel" para observarmos quanto precisamos nos apropriar de diferentes gêneros para compreendermos o que é transmitido e sermos críticos em relação às idéias que nela circulam. Ao ver a notícia de uma manifestação pública contra um chefe de estado, por exemplo, não basta que o aluno grave na memória quem participou dela, onde aconteceu. É preciso que ele entenda as ligações que esse acontecimento tem com a política internacional, com a economia, com a vida em sociedade. Ser letrado, então, não é somente ser capaz decifrar um bom número de textos orais ou escritos, é a capacidade de compreender as informações que esses textos trazem e de fazer relações entre elas.
Então, podemos dizer que precisamos de um alto grau de letramento para assistir televisão com proveito. Isso acontece porque, embora transmitidos oralmente, os gêneros que dão origem aos programas de TV são preparados anteriormente por escrito. Todos os programas têm um roteiro escrito como base. Muitas vezes são inspirados em livros de todos os tipos, ou em leis, ou em gêneros médicos, ou em receitas culinárias, ou em artigos esportivos e regras de jogo, outras vezes reproduzem os gêneros que circulam em jornais impressos. Ou seja, a escrita fundamenta todos os programas da televisão.
Os exemplos acima mostram como as áreas de atividade humana e suas linguagens se interpenetram e como os gêneros textuais próprios de cada uma delas podem circular também em outras áreas, pelo fato dos homens viverem em sociedade e circularem por diferentes áreas de produção de linguagem, “carregando” os gêneros para lá e para cá, para servirem às suas necessidades de comunicação.
Com o exemplo da necessidade de alto grau de letramento para ver televisão, podemos avaliar quanto precisa ser alto o grau de letramento para que possamos exercer plenamente nossa cidadania.
Os gêneros textuais e o ensino de língua
Se os gêneros textuais são tão importantes para o letramento e para a cidadania, mas são em número infinito, quais devemos escolher para incluir no currículo escolar? A primeira reflexão que precisamos fazer é que muitos deles não precisam ser ensinados na escola e outros precisam ser ensinados na escola.
Os gêneros cotidianos como os da área familiar, por exemplo, não precisam ser ensinados de forma sistemática. São aprendidos no uso, com a interação com adultos que os dominam. Estão nesse caso as fórmulas de gentileza como dizer bom dia, obrigado, como vai, etc., que os pais costumam ensinar aos filhos. Já os gêneros das áreas mais especializadas, como a literária, ou a jornalística, precisam de ensino sistematizado.
De um modo geral, em situações de comunicação informais, cotidianas, usamos gêneros que não precisam de muito planejamento para ocorrer. Esses gêneros são os que chamamos de
gêneros primários e não precisam de ensino escolar para que os alunos os aprendam.
Como exemplos de áreas de atividade humanas mais especializadas, que produzem gêneros que precisam de planejamento para existir, podemos citar a área de produção literária, a área jornalística, a área jurídica, a área científica, médica, a publicitária, etc. Os gêneros mais formais dessas áreas de atividade humana são chamados de gêneros secundários. Para serem apreendidos, esses gêneros precisam de ensino escolar.
São áreas de atividade humana que produzem gêneros que a escola precisa ensinar:
1 ̵ Área literária
O domínio dos gêneros literários é muito importante porque eles dão ao aluno conhecimento de mundo de forma agradável e ao mesmo tempo profunda. Na área literária, embora os gêneros sejam muitos e diversos, vamos encontrar situações de comunicação e de produção de linguagem semelhantes: escritores produzindo textos com a finalidade de encantar, divertir ou fazer pensar seus leitores. São gêneros literários os contos dos mais diversos tipos, os romances, as crônicas, os poemas, as memórias, por exemplo. A escola básica ensina esses gêneros há muito tempo, embora não use, em geral, a metodologia da seqüência didática que o Escrevendo o Futuro vem usando.
2 – Área jornalística
Os gêneros jornalísticos são imprescindíveis para o letramento. Nessa área, as comunicações humanas são muito abrangentes, unindo, de certa forma, pessoas dos mais diferentes países e regiões, possibilitando uma visão ampla do mundo. Nessa área, encontramos gêneros como notícias, reportagens, artigos de opinião, crônicas jornalísticas, editoriais, entrevistas, debates e muitos outros. Os gêneros da área jornalística são ensinados nas escolas com bastante freqüência nas últimas décadas, porque se acredita que pessoas desinformadas não têm condição de exercer plenamente sua cidadania.
3 – Área jurídica
Os gêneros dessa área são muito relevantes a vida social. Nela, vamos encontrar promotores, juízes, advogados, escrivães, produzindo gêneros como contratos, peças de defesa para tribunais, artigos de lei, etc., que permitem às pessoas regularem seus atos como cidadãos e seus negócios. As pessoas comuns estão o tempo todo assinando contratos jurídicos, como os de aluguel ou de financiamento para compras de eletrodomésticos. Muitas vezes estudamos gêneros jurídicos com os alunos. É o caso do estudo do Estatuto da Criança e do Adolescente e do estudo de contratos. Estudando gêneros jurídicos, os alunos podem compreender melhor seus direitos e lutar por eles.
4 – Área publicitária
Gêneros dessa área vêm freqüentando há algum tempo os manuais escolares. Seu estudo é importante para a formação do espírito crítico, da reflexão sobre o consumismo que aliena as pessoas, para a defesa do consumidor.
5 – Área científica
Gêneros textuais provenientes da área científica são indispensáveis na escola. Aliás, podemos dizer que a escola existe há muito tempo porque sempre foi consenso de que tanto eles como os gêneros literários necessitam muito trabalho de ensino para que os alunos os aprendam. Para lê-los e estudá-los com proveito, os alunos precisam desenvolver capacidades de leitura especiais, já que esses são gêneros produzidos juntamente com pesquisas científicas muito elaboradas, o que pode torná-los distantes demais do aluno. Estão nesse caso os enunciados de problemas, os textos de ciências, de história ou geografia. Os professores dessas áreas precisam conscientizar-se de que, sem sua participação no ensino de leitura dos gêneros específicos, os alunos pouco irão aprender em suas disciplinas.
6 – Outras áreas
Há esferas em novas atividades humanas e novos gêneros se impõem pela abrangência e amplidão que seu uso tem. Uma dessas esferas de atividade novas, a Internet, por exemplo, trouxe gêneros como o blog, o e-mail ou a linguagem abreviada usada nas salas de bate-papo. É importante refletir sobre o uso dos gêneros da Internet na escola, uma vez que adolescentes e até mesmo crianças usam esses gêneros cotidianamente. Uma outra área importante é a área médica. Conhecer seus gêneros, como bulas e receitas, ou mesmo artigos médicos sobre doenças transmissíveis é importante para a defesa da saúde.
Poderíamos continuar a nomear gêneros e esferas sem encontrar um fim para isso porque enquanto houver novas esferas de atividade humana, novos gêneros estarão nascendo. O importante desta reflexão, porém, é que o professor se conscientize de que é preciso diversificar o ensino de gêneros textuais na escola para ampliar as capacidades de leitura e escrita de seus alunos. Dominar diversos gêneros dessas importantes esferas que comentamos permite que o aluno se comunique com elas com facilidade.
Assim, quanto mais gêneros estudarmos com eles, mais estaremos contribuindo para que seu grau de letramento se amplie e mais estaremos contribuindo para que eles sejam cidadãos mais conscientes e atuantes.
Publicado em: 08/03/2007 na Comunidade Escrevendo o Futuro

COMUNIDADE ESCREVENDO O FUTURO

A Comunidade http://escrevendo.cenpec.org.br/ é um espaço para encontro dos professores que já fazem parte da Olimpíada da Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, mas podem se cadastrar quaisquer professores interessados no ensino da língua portuguesa. É um espaço muito rico, no qual podemos compartilhar experiências ou simplesmente nos deleitarmos com maravilhosos textos produzidos por pessoas que são pura sensibilidade, profissionais que amam as letras e se regozijam com a possibilidade de espalhar um maior encantamento sobre a maravilhosa arte de ler e escrever. A partir de hoje, compartilharei com vocês alguns textos que achar interessante, bem como informes que considere do interesse daqueles que, como eu, buscam sempre caminhos que dinamizem e tornem fascinante o ensino da língua portuguesa.
PALMIRA LINS DE CARVALHO - CALENDÁRIO DO 1º PERÍODO (jan, fev e mar)

JANEIRO
18 a 22 - Jornada Pedagógica.
21 - Início do período letivo.
29 - Aniversariantes do mês.
30 - Dia da Não Violência.

FEVEREIRO
1 a 5 - Reunião de pais.
22 a 26 - Semana de Integração - Vivenciando a Amizade / Roda de conversa: Eleição para Representante de turma.
26 - Aniversariantes do mês.

* Palestra sobre o ECA.
* Atividade extraclasse.

MARÇO
1 a 4 - Semana de preparação: eleição de representantes de turma.
5 - Eleição de representante de turma.
8 - Dia internacional da mulher.
10 - Posse do representante de turma.
12 - Comemoração do Dia da Poesia (Sala de Leitura/Biblioteca).
15 - Dia da Escola / Dia mundial do consumidor.
19 - Dia da família na escola.
26 - Reunião (Revitalização do PPP)
30 - Aniversariante do mês.
31 - Culminância do período.
PALMIRA LINS DE CARVALHO - Ano letivo 2010
As atividades na escola Palmira Lins de Carvalho para o ano letivo de 2010 serão desenvolvidas em quatro períodos. Cada um destes períodos está fundamentado num tema cuja inspiração veio do Referencial Curricular para a Educação Nacional, em seus Parâmetros Curriculares. Desta forma, todas as ações da Escola estarão direcionadas para a construção de um valor, esquematicamente representado a seguir:
1º Período (jan, fev e mar) - VIVENCIANDO A ÉTICA.
2º Período
(abril, maio e jun) - VIVENCIANDO O MEIO AMBIENTE.
3º Período
(agosto, set, out) - VIVENCIANDO A SAÚDE E A ORIENTAÇÃO SEXUAL.
4º Período
( nov e dez) - VIVENCIANDO A PLURALIDADE CULTURAL.

A cada período, será realizada uma culminância, a qual representará um momento precioso para avaliarmos as ações desenvolvidas.
A conclusão deste projeto ocorrerá no final do ano letivo, momento em que acontecerá uma Mostra Cultural, na qual será apresentado o acervo material e intelectual produzido por nossos alunos no decorrer do processo ensino-aprendizagem.